Joi (ou Joy = felicidade), em Blade Runner 2049, é um produto programado para sempre falar o que se quer ouvir, foi elaborado para te fazer se sentir uma pessoa especial.
Apesar de o filme transmitir a ideia de um futuro tecnológico, a mensagem já está encravada na história humana desde a Revolução Industrial, em meados de 1800.
Por milhões de anos a humanidade se desenvolveu vinculada à família e laços íntimos comunitários. Na medida em que a capacidade produtiva foi aumentada, a sociedade do consumo emergiu para dar conformidade à nova realidade. Tradições foram substituídas pela rotina, celebrações locais deram espaço à cultura de massas e modas cientificamente planejadas, o poder da família se restringe cada vez mais perante o poder do Estado, e os mercados globais cada vez mais oferecem novas formas de torná-lo um individuo único, especial, independente e livre…
A indústria lhe fornece a realização de desejos por ela fabricados. Softwares filtram sua realidade para conformá-la com sua busca. Mas e quando o que se busca é aquilo que pela indústria foi destruído?
Em um futuro destruído o agente k, um humano artificial, busca em um produto a capacidade de se sentir especial.
Esse cenário, embora fantasioso, nos permite grande reflexão sobre o autoconhecimento. Encarando a temática com profundidade, podemos nos questionar até que ponto nossa alegria depende do que consumimos, ou quanto de nossa personalidade é moldada pelas inovações tecnológicas e como essa personalidade molda as novas tecnologias… Entre tantas outras reflexões possíveis.
Ao sondar as próprias motivações e confrontá-las com a realidade que nos cerca, assumimos a responsabilidade sobre a realidade que queremos, nos tornamos mais vivos e menos artificiais.
César Ameno.