Como a motivação pode ajudar a encarar a vida?
Aquele que se dedica a essa leitura, compreende que perseguir o conhecimento é aprofundar no desconhecido. Logo, para lidar com essa colossal jornada, resta ao ser pensante recorrer diversas vezes ao conhecimento de si mesmo. E para ser possível o autoconhecimento é necessário o conhecimento da motivação, ou ao menos a dedicação em conhecê-la.
É impossível desaber o que se sabe. Contudo, é perfeitamente possível, e esperado, que o conhecimento adquirido te leve a outros saberes, por vezes antagônicos daquele de origem. Logo, é de fundamental importância compreender que o saber absoluto é inatingível para a forma humana enquanto tal, sendo necessária a constante busca pelo aprendizado, no mesmo passo em que nos equilibramos em tamanha incompreensão sobre nossa existência. Confuso? Talvez. Contraditório? Nem tanto. Acompanhe.
Quando falamos de motivação estamos falando de uma vontade vinda do interior do ser. Mas não é apenas uma vontade, como um desejo. É uma vontade intensa e incessante, que compõe a própria personalidade do individuo e se entrelaça com sua visão de mundo. A motivação é o que nos guia, é o que traz sentido a nossa existência e é o que nos separa do universo das bestas. O universo das bestas é o mundo dos ignorantes, dos inconsequentes, daqueles que se abandonaram a própria sorte e não conseguem encontrar forças para entender suas motivações, ou seja, não se empenham em busca do autoconhecimento. Não se sinta ofendido caso esteja se sentindo desmotivado, isso não faz de você uma besta. Não é este o sentido. Besta, no sentido exposto, se refere àquele que se rendeu, desistiu da intensa batalha que é se encontrar e vaga cegamente em um mundo de frivolidades, sem medir o impacto de seus atos e sem objetivos. É quem ignora a própria motivação. A besta abandonou a razão de viver, e caso não tenha acabado ainda com a própria vida, instigada todo instante a ações vazias, quando não satisfazendo interesses de terceiros, crê na condição de que tudo existe apenas para satisfazê-la. Reclama dos outros e não enxerga a própria culpa nas adversidades, enquanto nas alegrias se gaba do estilo de vida que tem. Podemos entender então, que neste sentido a besta é muito diferente da pessoa desmotivada, com depressão e outras doenças sérias.
A motivação não é a resposta, ou a solução de todos os problemas. Mas certamente é o que lhe permite valorizar a vida, e isso é de fundamental importância. Mesmo a pessoa desmotivada e perdida encontra virtude em si mesma ao procurar ajuda, pois reconhece que seu potencial vital está diminuindo, que algo de muito valioso está faltando e está disposta a não permitir que isso deixe de existir. Esse reconhecimento por si só já é sinal de grande sabedoria.
Como a motivação está intimamente relacionada ao autoconhecimento, é necessário se dedicar ao exercício de conhecer-se e entender-se na mutabilidade das ocasiões. Porém, praticar essa atividade não é tão simples quanto dizer, pelo contrário é extremamente difícil. Isso porque o saber humano é circunstancial e a personalidade do ser é a pessoa inserida em suas circunstâncias. Ou seja, não conseguimos lidar com o que não conhecemos e na medida em que passamos por diversificadas experiências, tornamo-nos conhecedores de uma pessoa diferente daquela que imaginávamos ser.
Assim sendo, encontrar sua motivação não é tarefa fácil e não existe uma resposta precisa que se encaixe em qualquer contexto. De qualquer forma, é a sabedoria e o conhecimento de si mesmo que confere valor à vida, pautando nossos atos. Distingue-se do valor egocêntrico, que atribui ao próprio ser o valor de sua existência, pois transcende o individuo atribuindo-lhe um papel em seu meio. Essa transcendência confere o sentido de seu valor em um ambiente, diferentemente de considerar-se o próprio objeto de valor.
Apesar de podermos contar com aliados nesta jornada que é a descoberta da motivação, o impulso inicial deve vir de dentro. Assim como o ímpeto que aqui trouxe sua mente, bem como o que a guiará em sua reflexão.
César Ameno.
Fonte: Pereira, Maria Célia Bastos. RH essencial. São Paulo: Saraiva, 2014.